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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Nanotecnologia ajuda em doença cardíaca

Gautam Naik

Materiais da nanotecnologia foram usados por cientistas para reparar tecidos vitais danificados em ataques cardíacos, sugerindo uma nova maneira de tratar a insuficiência cardíaca.

Os experimentos, realizados em ratos e porcos, resultaram no crescimento de novos vasos sanguíneos e na melhora na função cardíaca, sem efeitos colaterais nocivos, disseram os cientistas, ontem, em artigo publicado na revista "Science Translational Medicine".

"Atualmente, não existem terapias aprovadas na medicina regenerativa para a insuficiência cardíaca", disse Karen Christman, professora assistente de bioengenharia da Universidade da Califórnia em San Diego, que não participou dos recentes experimentos. "Esses resultados são muito animadores."

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 17 milhões de pessoas morreram de doenças cardiovasculares em 2008. Nos Estados Unidos, cerca de 785 mil pessoas terão ataques cardíacos pela primeira vez neste ano, e 470 mil sofrerão de ataques recorrentes. Embora mais pacientes estejam sobrevivendo a esses eventos, cerca de dois terços não têm uma recuperação completa e ficam vulneráveis à insuficiência cardíaca.

Alguns cientistas esperam poder transplantar células no coração dos pacientes para estimular o crescimento de novos tecidos. Os testes em animais deram resultados promissores, e a expectativa é que os testes em seres humanos em grande escala comecem nos próximos meses. Mas dados preliminares sugerem que o método talvez produza apenas pequenas melhoras na função cardíaca.

Uma técnica alternativa é injetar uma proteína conhecida como VEGF, a sigla em inglês para fator de crescimento vascular endotelial, para estimular o crescimento dos vasos sanguíneos do coração. Esse método não funcionou bem até agora porque a circulação sanguínea no coração tende a impelir rapidamente para fora o VEGF.

Em seus experimentos publicados recentemente, pesquisadores descreveram uma solução de engenharia para o problema. Eles elaboraram fibras com fragmentos de proteína e em seguida formaram com elas uma estrutura quadriculada. Cada fibra tem apenas cinco nanômetros de largura e cem nanômetros de comprimento. (Um nanômetro é o comprimento de três a seis átomos colocados lado a lado.)

A estrutura quadriculada vem sob a forma de um gel viscoso. Os cientistas a mesclaram ao VEGF e injetaram a combinação no coração de dois grupos de animais de laboratório, ratos e porcos, nos quais haviam induzido ataques cardíacos. Em ambos os casos, em vez de ser arrastado pelo fluxo sanguíneo, o VEGF permaneceu fixo na estrutura quadriculada e foi lentamente liberado ao longo de várias semanas.

Estimativa é que, neste ano, 785 mil pessoas terão ataques cardíacos pela primeira vez nos Estados Unidos

As células-tronco da medula óssea normalmente circulam no sangue e fazem parte da "equipe de reparos" dos tecidos danificados. Nos experimentos com animais, quando essas células detectaram que o VEGF estava sendo liberado, elas se transferiram para o coração e ali começaram a produzir vasos sanguíneos minúsculos, ou capilares.

"As nanofibras criam um microambiente especial no coração que mobiliza as células-tronco", disse Patrick Hsieh, cirurgião cardíaco da Universidade Nacional Cheng Kung, de Taiwan, e autor principal do artigo.

No entanto, a formação de novos capilares não basta para ajudar um coração fraco. Para que a regeneração continue, as células-tronco, tanto da medula óssea como do próprio coração, devem ser induzidas a formar uma segunda camada de tecido, necessária para a formação das artérias, que são maiores e mais grossas que os capilares.

Para surpresa dos cientistas, a liberação prolongada do VEGF alcançou esse resultado.

"Esta é a descoberta mais marcante do nosso método", disse Hsieh. "Constatamos um crescimento arterial mais de cinco vezes maior que nos grupos de controle", os quais incluíam um grupo de animais que só recebeu o VEGF, e outro que só recebeu as nanofibras, sem o VEGF. O crescimento de novas artérias contribuiu para melhorar a função cardíaca dos animais, disse Hsieh.

Os pesquisadores também detectaram a criação de novos músculos cardíacos. Isso também é importante, pois o tecido de "cicatrização" que naturalmente se forma após um ataque cardíaco é muito fino e pode ficar esticado de uma maneira que altera a forma do coração. Nas experiências recentes, o gel de nanofibras pareceu reforçar essas áreas mais fracas do coração.

Os resultados benéficos nos suínos foram particularmente importantes, uma vez que seu coração tem semelhança significativa com o coração humano; mas restam dois desafios antes que a técnica possa ser testada em pessoas com segurança.

"Precisamos determinar o efeito de longo prazo nos animais, e precisamos determinar o momento ideal em que as nanofibras de VEGF devem ser administradas", disse Hsieh.

Os pesquisadores disseram que trataram os ratos e porcos imediatamente após um ataque cardíaco. No caso de pessoas, disse Hsieh, também pode ser eficaz ministrar o tratamento na primeira semana após um ataque cardíaco, quando a atividade das células-tronco é maior.

O momento exato agora terá de ser definido. "Embora essa terapia seja promissora", disse Christman, "é importante verificar se o efeito positivo sobre a função cardíaca se manterá em longo prazo."

Fonte: Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária