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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Conselho discute tecnologia popular para avaliar potabilidade da água


Desenvolver um nanossensor popular capaz de detectar, ao mesmo tempo, a presença de três poluentes na água: Escherichia coli (bactéria responsável por graves problemas intestinais), metais pesados e glifosato (herbicida). O desafio foi aceito pela Comissão de Tecnologias Sociais do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), que se reuniu nesta terça-feira (9), em Brasília.

O encontro – realizado no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – reuniu especialistas nas áreas de física, química, biologia e gestão pública e contou com a presença do coordenador-geral de Micro e Nanotecnologias do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Flavio Plentz, dos assessores especiais do ministério Adalberto Fazzio e Ana Lúcia Gabas e do assessor técnico do CGEE Elyas Medeiros.

O grupo, coordenado pelo vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti, tem se dedicado ao desenvolvimento de um dispositivo barato e de simples operação para a população em geral capaz de sinalizar se a água é potável

Na reunião, laboratórios de nanotecnologia apresentaram técnicas possíveis para o desenvolvimento de dispositivos para detectar bactérias ou elementos poluentes.


Ao falar sobre os progressos alcançados pelo Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe) com o tema “Polímeros condutores e potabilidade”, o professor Celso Pinto de Melo ressaltou a importância da iniciativa ao lembrar o caso da população brasileira que é castigada pela seca e, muitas vezes, anda quilômetros para conseguir um pouco de água sem saber a qualidade do que vai encontrar e consumir. “Um dos fatos que provocou esse programa foi imaginar de que a Amazônia é um ‘mar de água’ e que não é potável. A população ribeirinha também não sabe se pode beber a água”, concordou Candotti.

Tema em foco
O professor Jailson Bittencourt Andrade, do Departamento de Química Geral e Inorgânica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), destacou as peculiaridades de cada região no que se refere às problemáticas relacionadas à potabilidade da água. “Não é uma fonte pontual, mas difusa”, disse. Bittencourt lembrou também que a ação do CCT vai ao encontro do Ano Internacional de Cooperação pela Água (2013), lançado pela Unesco. “Muitas crianças no mundo morrem por doenças transmitidas por meio da água”, alertou.


Ele recordou, ainda, uma ação desenvolvida mundialmente pelo Ano Internacional da Química (2011), em que foi realizado o Experimento Global do pH do planeta. Com a distribuição de milhares de kits para escolas, alunos coletaram amostras de água provenientes de fontes naturais locais e puderam medir a acidez com o uso de soluções coloridas indicadoras. “O Brasil foi responsável por 28% dos experimentos. É um exemplo de como podemos mobilizar a população e as escolas”, afirmou.

Em sua explanação sobre o uso de nanomateriais para Aplicação em Medicina e Controle Ambiental, o professor Valtencir Zucolotto, do Laboratório de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP-São Carlos) tratou sobre o uso de nanomateriais para aplicações na área de medicina e de controle ambiental.
“A medicina está muito interessada em nanotecnologia, um exemplo é o uso de nanopartículas para o diagnóstico mais preciso de tumores”, disse Zucolotto, ao descrever os trabalhos desenvolvidos, nos últimos anos, na produção de nanossensores para a detecção de doenças infecciosas, como a leshimaniose, e de membranas celulares para a remoção de metais pesados de águas fluviais.

O pesquisador Carlos César Bufon, do Laboratório Nacional de Nanotecnologia do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), apresentou as aplicações possíveis de sensores nanoestruturados para avaliar a qualidade de resíduos industriais em águas de rios e lagos e do nível de contaminação da água por contaminantes biológicos, metais pesados e defensivos agrícolas.

Também participaram do encontro uma representante da Agência Nacional de Águas (ANA/MMA), Mariana Gomes, que fez um panorama sobre a legislação existente sobre a potabilidade da água e os principais desafios na área, e a pesquisadora Sofia Luíza Brito, da Fundação Centro Internacional de Educação, Capacitação e Pesquisa Aplicada em Águas (Unesco-HidroEX), que relatou o trabalho realizado para avaliar a qualidade da água no município de Frutal (MG).

Programa
Adalberto Fazzio e Flavio Plentz informaram que a criação de nanossistemas para diagnósticos faz parte de um programa maior e específico para a área de nanotecnologia que vem sendo construído no âmbito do MCTI nos últimos dois anos. “É essencial termos ações desse tipo para induzirmos projetos específicos”, frisou Plentz, ao comentar a importância da discussão.

O coordenador da área de nanotecnologia do ministério explanou sobre iniciativas já implantadas para impulsionar o setor, a exemplo do Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNano) e do Comitê Interministerial de Nanotecnologia (CIN). Plentz trouxe ao grupo a preocupação em debate no comitê de se promover a integração orçamentária entre vários ministérios. “Essa ação, que deve ser importante e inclusiva, é uma discussão técnica e longa e que vai envolver diversos atores”, frisou.

Segundo Ennio Candotti, as considerações do grupo e o resultado dos trabalhos serão encaminhados ao comitê interministerial. “Esse é um bom pretexto para se colocar na mesa a importância da nanotecnologia e existe um compromisso do ministério em relação a essa política”, finalizou.

Texto: Denise Coelho – Ascom do MCTI