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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A aposta argentina em nanotecnologia



Por Taos Turner | The Wall Street Journal, de Chascomus, Argentina


Construída sobre o que restou de uma tecelagem familiar, uma moderna fábrica de semicondutores começou a operar nessa cidade argentina a quase 130 quilômetros de Buenos Aires.

A planta pode produzir chips GSM para telefones celulares, cartões inteligentes para o transporte público e microchips para cartões de crédito.

A nanotecnologia, que manipula materiais de dimensões minúsculas como microchips, não está plenamente desenvolvida na Argentina. Mas o empresário Matias Gainza Eurnekian, de 28 anos, convenceu seu tio, o octogenário Eduardo Eurnekian, a investir US$ 1,2 bilhão para tentar mudar isso.

Foi assim que, em maio de 2012, quando tio e sobrinho se reuniram para discutir futuros empreendimentos, o veterano magnata, que em 1998 já havia construído um império de mídia de quase US$ 1 bilhão, vislumbrou uma oportunidade na nanotecnologia e se dispôs a seguir as ideias do jovem. "Comecei a trabalhar nisso naquele mesmo dia", disse Gainza Eurnekian, "e não parei até agora".

A holding dos Eurnekians, a Corporación América, concluiu a fábrica de última geração em fevereiro. Eles esperam torná-la, até o fim de 2014, a única produtora integrada de semicondutores da América Latina, o que lhes daria, dizem, vantagem nas vendas e na distribuição no continente.

"Foi uma grande aposta", disse Gainza Eurnekian recentemente. "Dada a velocidade com que a tecnologia muda, tivemos que construir a fábrica em dez meses para o modelo de negócios fazer sentido."

Se tudo der certo, os Eurnekians pretendem abrir o capital da holding. "Esperamos estar preparados [para isso] em dois anos", disse Eduardo Eurnekian.

O negócio principal da Corporación América é a administração de 51 concessões de aeroportos na América Latina e Europa. Mas os Eurnekians acreditam que o crescimento futuro virá da indústria de nanotecnologia. E a experiência deles para obter contratos governamentais poderia ajudar a compensar os desafios tecnológicos que vão enfrentar como novatos num setor globalizado e altamente competitivo.

"Como uma firma nova, eles estarão em grande desvantagem [...] embora possam conseguir contratos sob a alçada do governo", disse Len Jelinek, diretor e analista da consultoria IHS.

Ter a Argentina como sede traz seus desafios, como inflação alta, aumentos anuais de salários e pesadas barreiras à importação. "Se eles não puderem igualar ou bater os preços da concorrência, não vão poder competir no longo prazo", disse Jelinek. "A questão hoje não é onde você está no mundo, mas que vantagem diferenciada você pode oferecer."

A família já investiu US$ 300 milhões na nova unidade de negócios, chamada Unitec Blue, que planeja vender produtos com microchips para empresas e governos em toda a América Latina e outras regiões. A subsidiária começou recentemente a produzir alguns dos cartões usados por milhões de pessoas nos sistemas de transporte de massa de Buenos Aires e pretende disputar contratos para fornecer carteiras de motorista nos EUA.

Seus chips podem ser integrados a uma ampla gama de produtos, entre eles passaportes eletrônicos e dispositivos para monitorar o gado.

Os bancos e companhias de telecomunicações da América Latina, bem como governos e prefeituras da região, vêm importando tecnologia semelhante da Ásia, Europa e dos EUA para uso em cartões de crédito e de débito, celulares e crachás de identificação. Só no ano passado, a Argentina importou 35 milhões de chips GSM para celulares, disse Diego Barletta, diretor de vendas da Unitec Blue.

A empresa já tem ou está negociando acordos comerciais na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru. Um possível grande negócio é o fornecimento de microchips, ou circuitos integrados, a governos para documentos como carteiras de identidade e passaportes.

O Brasil representa um grande potencial para as vendas desses chips por causa das muitas cidades que usam cartões de transporte público, disse Gainza Eurnekian. A empresa planeja participar de licitações para o fornecimento desses cartões no Brasil e outros países vizinhos. Administradoras de rodovias também usam etiquetas inteligentes presas ao para-brisa para identificar os automóveis que passam por seus pedágios.

A Unitec Blue espera produzir um total de cerca de 1,5 bilhão de microchips por ano. Mas a empreitada tem seus riscos, observa Gainza Eurnekian. As tendências tecnológicas mudam quase que da noite para o dia e a demanda por novos e caros equipamentos de produção força as empresas a continuar reinvestindo. "Em três ou quatro anos, estas máquinas não valerão nada", disse ele, apontando para equipamentos de fabricação importados a um custo de US$ 250 bilhões.