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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Nanomaterial contra superbactérias

Material feito de nanopartículas de tungstato de prata mostrou grande eficácia no combate a um dos microrganismos super-resistentes mais disseminados no mundo e responsável por grande parte das infecções hospitalares.

Por: Vitor Ribeiro

Nanomaterial contra superbactérias
O tungstato de prata foi capaz de eliminar bactérias ‘Staphylococcus aureus’ resistentes à meticilina, uma das principais causas de infecções hospitalares. (imagem: NIAID/ NIH)
Um material minúsculo pode ser o mais novo aliado no combate à proliferação de superbactérias, responsáveis por um número cada vez maior de infecções e mortes em todo o mundo. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) comprovaram a ação bactericida de nanopartículas de tungstato de prata em testes com a bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina (SARM), uma das mais disseminadas, tanto no ambiente hospitalar quanto fora dele.
As bactérias super-resistentes, que surgiram, em parte, devido ao uso indiscriminado de antibióticos ao longo do tempo, tornaram-se um grave problema de saúde pública. Segundo o dentista Carlos Eduardo Vergani, da Faculdade de Odontologia da Unesp-Araraquara, o fato de esses microrganismos serem muito tolerantes aos remédios torna as infecções por eles causadas mais agressivas ao ser humano.
As superbactérias podem formar colônias protegidas por uma camada extracelular composta de polímeros, o que as torna extremamente resistentes e dificulta a ação dos antibióticos
Além disso, as superbactérias podem formar colônias organizadas, chamadas biofilmes, sobre diferentes superfícies úmidas (embalagens, próteses, dentes etc.). Essas colônias são envolvidas e protegidas por uma camada extracelular composta de polímeros, o que as torna extremamente resistentes e dificulta a ação dos antibióticos. Por isso, os biofilmes são, muitas vezes, responsáveis por infecções hospitalares.
Como essas bactérias são muito resistentes, é um grande desafio desenvolver novas estratégias para o seu controle”, destaca Vergani, que também é coordenador de saúde do Centro para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), órgão que reúne cientistas de diferentes instituições e onde o tungstato de prata está sendo estudado.

Eficácia aumentada

O tungstato de prata é um material desenvolvido recentemente por outro grupo de pesquisadores do CDMF. Eles usaram microscópios eletrônicos para irradiar elétrons sobre nanopartículas de tungstato (composto formado por óxido de prata e tungstênio), o que levou ao surgimento de filamentos de prata na superfície do material. O processo de elaboração do composto foi descrito em artigo publicado em abril deste ano na revista Scientific Reports.
Tungstato de prata
Crescimento de filamento de prata metálica (indicado pela seta azul) em um composto formado por óxido de prata e tungstênio (chamado de tungstato) a partir de uma nova rota de síntese do material. (imagem: Longo, E. et al / Scientific Reports)
Segundo Vergani, o crescimento de filamentos de prata no tungstato potencializou a já conhecida capacidade do material de combater a proliferação de bactérias. Isso aconteceu porque os filamentos de prata são altamente reativos em meio úmido – onde podem se formar colônias de superbactérias – e produzem radicais livres, que combatem os microrganismos. “Os radicais livres reagem com as diferentes moléculas presentes no biofilme, provocando uma alteração no metabolismo de sua membrana, o que causa a morte das bactérias”, explica.
O nanomaterial irradiado é bem mais eficaz que o tungstato de prata por si só no combate a SARM
Testes com SARM mostraram que o nanomaterial irradiado é bem mais eficaz que o tungstato de prata por si só. “Conseguimos reduzir em quatro vezes a quantidade da substância necessária para eliminar esses microrganismos”, conta o pesquisador. Os resultados do estudo estão em processo de publicação e a equipe ainda vai testar o novo material em outras bactérias super-resistentes.
Os pesquisadores pretendem usar as nanopartículas de tungstato de prata irradiado na produção de medicamentos e materiais onde é possível a formação de biofilmes de superbactérias. “Um dos objetivos da pesquisa é introduzir o tungstato de prata na composição de alguns objetos, como lentes de contato, implantes dentários e próteses ortopédicas, para torná-los mais resistentes à atividade microbiana”, completa Vergani.