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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Tese de Doutorado: Educação não-formal em mídias: Divulgação científica sobre nanotecnologia

Educação não-formal em mídias: Divulgação científica sobre nanotecnologia

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná como requisito parcial para obtenção do título de "Doutora em Tecnologia” -
Área de Concentração: Tecnologia e Sociedade.
Orientadora: Profa. Dra. Noela Invernizzi

Data de Emissão: 25-Jun-2013
Campus: Curitiba


Autora: Clecí Körbes

RESUMO: 

Veja completo aqui
Na última década vem sendo institucionalizadas no Brasil políticas públicas de popularização da ciência e da tecnologia. Todavia, poucos estudos têm sido realizados sobre as metodologias utilizadas e os conteúdos desenvolvidos. Nesse contexto, a tese tem como objetivo central examinar a divulgação da nanotecnologia em mídias que respondem a interesses e valores de grupos sociais diferentes, e indagar, mediante uma análise comparativa, quais são as características dos modelos de divulgação utilizados, quais são os conteúdos referenciados e quais não são abordados, e qual é sua função educativa. Utiliza-se a metodologia de análise de conteúdo, de cunho qualitativo e quantitativo, a partir dos fundamentos dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, em especial dos Latino-americanos, e da educação não-formal. 


Analisam-se as seções de ciência do programa de TV aberta Bom Dia Brasil e do jornal Folha de S. Paulo no período de 2008 a 2010, e uma amostra não aleatória de 20% dos programas Nanotecnologia do Avesso, programa de entrevistas em webTV, no período de 2009 a 2010. 

Observou-se, mediante análise comparativa, que as definições de nanotecnologia variam bastante entre os meios, dependendo de quem as produz e das circunstâncias que levam à sua promulgação e estabilização. 

No Bom Dia Brasil e na Folha de S. Paulo o conceito de nanotecnologia enfatiza o artefato material e explicita minimamente sua configuração social por uma rede sociotécnica, aspecto amplamente abordado no Nanotecnologia do Avesso. Todas as mídias descrevem as novas propriedades e funções da matéria em nanoescala, mas diferem na forma de fazê-lo, de acordo com os interesses dos atores relevantes representados: ora salientam o potencial de inovação que tais propriedades geram, ora novos riscos associados a elas. 

No Bom Dia Brasil e na Folha de S. Paulo sobressaem expectativas de que tais novas propriedades e funcionalidades redundem em benefícios, tais como produtos mais eficientes para a abertura de novos mercados, avanços na saúde e qualidade de vida e preservação do meio ambiente. Essas visões reproduzem discursos baseados em modelos lineares, como a suposta neutralidade, inexorabilidade e progresso contínuo da ciência e da tecnologia

No Nanotecnologia do Avesso é proeminente a discussão de potenciais riscos e implicações sociais, legais e éticas da nanotecnologia, e a demanda pela aplicação do princípio de precaução e regulação obrigatória

Conclui-se que a divulgação sobre nanotecnologia é um processo educativo repleto de tensões e polarizações, que transcende sua especificidade de prática simbólica e se articula com a prática produtiva e social, ora aproximando-se, ora afastando-se da perspectiva de cidadania sociotécnica, de acordo com os modelos de divulgação adotados e os grupos sociais representados nas diferentes mídias.

REFLEXÕES FINAIS
[...]
Nossa investigação mostrou que no Bom Dia Brasil e na Folha de S. Paulo predominam as vozes de pesquisadores das áreas de Ciências Exatas e da Saúde e das Engenharias. Em relação inversa, no Nanotecnologia do Avesso predominam os entrevistados (pesquisadores e não pesquisadores) das Ciências Humanas sobre essas áreas, as Exatas aparecem em segundo lugar, seguidas pela área de Ciências Sociais Aplicadas e Multidisciplinar, em terceiro lugar. Neste programa chama particular atenção uma expressiva participação de atores direta ou indiretamente ligados a movimentos da sociedade civil organizada, como os dirigentes e as assessorias a organizações sindicais, e a participação de docentes da educação básica, ambos atores ausentes das outras mídias analisadas. Reconhecemos, assim, que cada mídia empodera alguns grupos (ou nós) da rede sociotécnica que constitui a nanotecnologia.
[...]
Os campos de tensão são justamente os três planos da existência humana anteriormente discutidos, a prática produtiva, social e simbólica, terrenos de luta pela hegemonia. Nesse sentido, o programa Nanotecnologia do Avesso está mais articulado à perspectiva de cidadania sociotécnica, pois busca fomentar o engajamento público para um trabalho produtivo com segurança para o trabalhador, os consumidores e o ambiente, para a participação cidadã ativa na discussão da tecnologia, e para a socialização e apropriação de saberes e conhecimentos que possam fundamentar a prática social e produtiva. 

Os meios de comunicação de massa convencionais, por sua vez, aparecem mais alinhados com a Política Nacional de Nanotecnologia, cujas ações de divulgação científica têm estado orientadas ao mundo empresarial e que enfocam a prática produtiva sobre as demais práticas que integram a existência humana.
Contraditoriamente, o discurso das políticas públicas e algumas das suas ações começam a apontar para práticas produtivas, sociais e simbólicas mais inclusivas.

Concluindo, na divulgação científica é preciso aprimorar a abordagem dos conceitos de ciência e tecnologia em uma perspectiva sociotécnica, para superar as visões ingênuas, paralisadoras e conservadoras de neutralidade e autonomia da ciência e tecnologia. Acreditamos que essa mudança depende em boa medida da abordagem de ciência e tecnologia que perpassa a formação formal e não-formal dos diversos profissionais. Concomitantemente, a diversidade de mídias e o engajamento público se revelou nessa tese como um caminho fundamental para a construção de uma prática simbólica no campo da educação não-formal em mídias que se articule organicamente com a prática social e produtiva para a inclusão social, pois como toda prática simbolizadora, a educação não-formal não é uma práxis neutra.



Fonte: Repositório Institucional da UTFPR